O semblante por vezes sisudo escondia doçura no trato pessoal e afiado senso de humor, típico de pessoas inteligentíssimas. E quando da conversa brotava a gargalhada, do sorriso barbudo irrompia brilho especial: “Betinho sorrir com os olhos”, notava Doralice, viúva do meu pai. Com efeito, aqueles olhos miúdos expressavam algo extraordinário.
Betinho Rosado se foi na madrugada de hoje (12), aos 75 anos, após vida plena, como bem definiu o filho Beto. Além de saudosa legião de amigos, familiares, admiradores, o velho Beto deixa inestimável legado para Mossoró (terra que tanto amou e defendeu), para o Rio Grande do Norte e para o Brasil.
Sim, porque foi um homem, realmente, com espírito público. E mais: um íntegro homem público. Tive o privilégio de cobrir, como jornalista lotado no gabinete parlamentar de Betinho em Brasília (DF), a relatoria dele na Câmara dos Deputados da Medida Provisória 214/2004, que introduziu, por meio da Lei 11.097/05, o biodiesel na matriz energética nacional.
Um tema que envolvia pesados interesses políticos e econômicos, que mobilizava fortes lobbies em Brasília. E que Betinho, com seu imenso conhecimento e retidão de caráter, conduziu com maestria. E de mãos limpas. Betinho nunca me pediu para sair da sala em qualquer das muitas reuniões com mega corporações do setor de energia, deputados, ministros de Estados.
Tudo era tratado às claras, sem interesses escusos da parte dele. O mesmo acontecia quando recebia prefeitos e prefeitas, no gabinete da Câmara, para definir a destinação de emendas parlamentares aos municípios potiguares. Não havia conversas secretas. Ele não tinha o que esconder.
São muitas as histórias e as lembranças desse homem admirável. Mas é curta a paciência do leitor.
Caminhando hoje ao lado da Praça Vigário Antônio Joaquim, mirei a estátua de Dix-sept Rosado, pensando: mais um a se juntar a ele no céu. E no céu, tão amado pelo governador, Betinho se reencontra com o pai, com a mãe Adalgisa, com o irmão Dix-sept Filho e com outros a formar constelação do bem no firmamento mossoroense.
E, enquanto não chega a nossa hora, por aqui seguimos, a olhar os altos edifícios de Mossoró, possíveis graças ao saneamento básico feito com emendas de Betinho; a lembrar das muitas obras nos municípios do RN, também delas decorrentes; dos royalties de petróleo no bolso dos humildes; das ideias visionárias, do amor pela Esam, que ajudou a fazer Ufersa; de tantas e tantas realizações.
Bate tristeza, ao constatar que homens públicos como ele estão cada vez mais raros.
Mas fica a gratidão pelo trabalho, pela confiança, pela amizade. E a lembrança daquele sorriso no olhar brilhante, como a nos guiar para seguir em frente.
Obrigado, Betinho Rosado.