O pedido do ministro Luiz Fux para deixar a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e migrar para a Segunda Turma vai muito além de uma movimentação administrativa. É um gesto político e, de certo modo, simbólico, que evidencia o clima de tensão que paira sobre a Corte desde o julgamento da tentativa de golpe de 2022.
Segundo bastidores de Brasília, a convivência entre Fux e os demais ministros da Primeira Turma tornou-se praticamente insustentável.
O ponto de ruptura teria sido seu voto solitário pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado pelos colegas a 27 anos e três meses de prisão. Desde então, as relações internas esfriaram e os ruídos se ampliaram.
Estratégia
O Supremo sempre cultivou a imagem de uma instituição colegiada, onde divergências fazem parte do debate democrático.
Mas, neste caso, a dissidência de Fux não ficou restrita ao campo técnico: tocou em feridas políticas profundas, especialmente porque o julgamento do núcleo bolsonarista é o mais sensível do tribunal nos últimos anos.
A transferência para a Segunda Turma – presidida por Gilmar Mendes e sob decisão do atual presidente do STF, Edson Fachin – tende a ser lida como uma saída estratégica.
Caso o pedido seja aceito, Fux se afastaria de novos julgamentos ligados à trama golpista, embora tenha manifestado disposição de seguir participando dos processos já em andamento.
Desafio institucional
Mais do que uma mudança de cadeira, o movimento de Fux revela como as divergências ideológicas e de interpretação jurídica têm impactado o ambiente interno do STF, algo raro de se tornar público.
O Supremo, que já vinha sendo alvo de ataques externos, agora parece lidar com um mal-estar interno que, se não for administrado com maturidade institucional, pode enfraquecer a imagem de unidade da Corte.
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