A decisão anunciada hoje (2) pela federação União Brasil-PP, determinando filiados a deixarem cargos no governo Lula (PT), mexe com o xadrez político nacional e repercute de imediato no Rio Grande do Norte. Para o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), pré-candidato ao governo estadual em 2026, a decisão tem sabor agridoce: resolve um dilema político, mas cria outro, mais pragmático.
Até aqui, Allyson enfrentava críticas por atacar o PT e o governo Fátima Bezerra, enquanto seu partido ocupava ministérios no Governo Federal, comandado pelo mesmo PT. Essa incoerência era explorada pelos adversários e fragilizava o discurso oposicionista.
O rompimento da federação União Brasil-PP, portanto, dá a ele uma narrativa mais limpa: pode se colocar como alternativa real de oposição, sem a sombra de um vínculo nacional com o lulismo.
Novo dilema
Mas se, no campo político, Allyson pode sair ganhando, no campo administrativo o desafio aumenta. Boa parte das obras de Mossoró é financiada com verbas e programas federais. Como manter o discurso de oposição a um governo que, na prática, viabiliza conquistas concretas para a população mossoroense?
Essa é a contradição que passa a rondar o prefeito e pré-candidato. O risco é que a narrativa de coerência política acabe sendo colocada em xeque pela dependência institucional.
Esse cenário também aumenta constrangimento para a senadora Zenaide Maia (PSD), que, embora tenha sido eleita trajada de “esquerda” em 2018 e seja vice-líder do Governo Lula no Senado, é apoiadora incondicional da pré-candidatura de Allyson. Aliás, obras entregues pelos dois em Mossoró são financiadas pelo Governo Federal, a partir de emendas da vice-líder do Governo Lula.
Riscos e ganhos
Para o PT, a mudança também não vem sem oportunidades. O partido poderá explorar justamente essa vulnerabilidade: cobrar de Allyson e de Zenaide Maia a origem dos recursos que financiam suas realizações.
E, mais do que isso, o rompimento pode ser usado para reforçar a narrativa de que a gestão federal não faz distinção partidária ao apoiar municípios, enquanto o prefeito aposta no discurso oposicionista e a senadora, mesmo o partido dela (PSD) continuando no Governo, mas apoiando um adversário do PT, seria ingrata e oportunista.
Bem, contradições expostas, o que se vê, a pouco menos de um ano do pleito eleitoral, é um cenário a caminho da definição. O eleitor potiguar, no fim, assistirá a uma disputa onde coerência e pragmatismo estarão no centro do jogo político.
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