Por Fabiano Morais*
Apocalíptico? Dramático? Pessimista? Alguns até podem dizer isso, quando refiro-me à situação do futebol em Mossoró. Mas atentem para os fatos e tirem as conclusões. Dos três times profissionais da cidade, um depende exclusivamente de seu dono, o MEC. Faz tempo que bate na trave e não sobe para a divisão de “elite” do RN. O Baraúnas, de grande tradição e torcida, vive no ostracismo e na segundona ano após ano. Também vive na dependência de um “dono”, que controla tudo do clube a afasta as pessoas de bem que poderiam ajudar a levantar o clube. O Potiguar, que vive o “melhor” momento, digamos assim, vez ou outra, vive passando o pires ou chapéu na mão, como queiram, para sobreviver. Vive de pedir as bênçãos ao “coronel” dono da FNF. Também vive de pedir migalhas ao todo poderoso chefe do Executivo de Mossoró.
Essas amarras mostram que o nosso futebol não é apenas pobre, mas como está na UTI, respirando com ajuda de muitos aparelhos. Se alguém desligar um deles, a morte poderá ser inevitável. As gestões também colaboram para tal situação ao longo dos últimos 20 anos – desastre na maioria delas, onde se levava em conta, apenas, promoções pessoais. Se desse para o time ter algum êxito, maravilha; caso contrário, a desculpa era pronta: “É muito difícil fazer futebol em Mossoró”.
Mas, como o futebol é imprevisível dentro de campo, às vezes essa sensação de UTI parece fazer que o paciente melhorou e foi para a enfermaria, ou até teve alta. Engano. Vejamos o Potiguar, no atual momento. Esse ano, segundo dados oficiais, recebeu cerca de R$ 600 mil da CBF, fora os patrocínios que o clube tem. Longe de levantar qualquer suspeita, porque seria leviandade. Mas por que não há apresentação de números quanto à receita e à despesa? Não seria melhor para todos? Por que não existe essa mínima organização? Lembrando que isso não é coisa de outro planeta. Vários clubes, inclusive do porte do alvirrubro mossoroense, fazem isso. Tão simples seria. Mas…
E continuando sobre esse momento do clube, que está participando da Série D nacional, no início da competição, com erros grotescos da diretoria, manteve-se um aprendiz de técnico, que só fez tornar o clube pequeno e sem nenhuma pretensão. Era a chamada gestão conjunta entre diretoria executiva e CEO do clube. Foi uma lástima. Depois da guerra de vaidades e de erros de todos os lados, eis que surge uma ruptura. O clube fica em situação difícil. Mas, eis que surge a ideia de trazer um técnico com experiência nesse tipo de competição e com bom curriculum. A coisa dá certo, mais pela competência do técnico e vontade do elenco, do que qualquer outra coisa fora de campo, este, por sinal, só há lamentações e trevas, com as dificuldades relatadas em pedidos via PIX e outras promoções para trazer os torcedores a ajudar. E aí entra o capítulo final dessas linhas.

O torcedor do Potiguar tem comparecido aos jogos nesse Campeonato Brasileiro, porém em pequeno número. Nenhum jogo teve público superior a 900 pagantes, segundo informam as rendas divulgadas pelo clube. Mas será que essa pouca participação não tem a ver com a péssima praça de esportes que tem na cidade? O “estádio” Nogueirão é, hoje, um palco de muito risco a quem nele se dirige. Estrutura comprometida em quase todas as partes. Não à toa, sofre inúmeras interdições. O porquê de ser liberado muitos não entendem, afinal, a precariedade é visível. E quem administra fez ou faz algo? Sim, para enganar os bestas, como se diz no interior. As famosas gambiarras estão por toda a parte. Ah, mas tem pintura. Grande coisa, como diria um amigo ali. E as cores são relacionadas ao gestor, que dirá que são “cores do município”. Sei…
Mas não é de maquiagem que sobrevive um estádio de futebol. Precisa de algo concreto, no duplo sentido. Ou seja, um estádio de verdade, onde o torcedor possa ir e se sentir protegido e com conforto. Possibilidades existem? Claro e eles sabem. Só não querem e nem dão importância para isso. Soberba e arrogância falam mais alto. E, diante de todo esse descaso, eis que o clube perde dois mandos de campo em reta decisiva na primeira fase. Teve de jogar em Natal e passar a sacolinha para recolher dinheiro e pagar ônibus, refeição e hotel do time. Conseguiu, mas deixou de arrecadar com ingressos aqui em Mossoró.
E, aí, surge um jogo decisivo. Expectativa de bom público, dentro do que é possível, cerca de 1.400 torcedores, apenas. Ridículo para uma torcida do tamanho do Potiguar. E o que a diretoria faz? Tenta resolver todo esse descaso público na cabeça do “otário” e “idiota” (contém ironia) torcedor alvirrubro. Esse que, durante a competição, foi decisivo para o time estar onde está. Venceu quase todos os jogos com apoio da torcida.
Mas, na melhor hora ele é convidado, não a ajudar, mas a se retirar do estádio por falta de condições financeiras. Levar a companheira ou companheiro, filhos, tios, avós? Nem pensar. Afinal, pagar ingressos de grandes jogos da Série A não estava no orçamento da maioria daqueles torcedores, simples, que foram para aquelas arquibancadas terríveis, que rasgam qualquer roupa. Ah, teve muita chuva e sol também para poder ver o time do coração. Mas, o entendimento de alguns da diretoria elitista é de que o Potiguar é um time de ricos, da elite mossoroense, como se pregou historicamente. Uma pena que nessa hora, em que o apoio total da torcida seria fundamental para ajudar ao clube a ganhar mais 100 mil reais, passando pelo Bahia de Feira de Santana.
Acredito que quem decidiu colocar esse preço não acredita nem no próprio time, porque o discurso mais entoado na mídia foi: “Quem vai pagar a conta”? Claro que a resposta é o torcedor. Isso se ele for e comprar os quase 1.400 ingressos. Será justo, amigo desportista? Aqui não existe dono da razão, mas existe alguém que vive o futebol há mais de 30 anos como jornalista esportivo e que não conhece apenas a realidade dessa bolha aqui. E outra, Mossoró é Brasil. Potiguar é Nordeste. Não tem por que querer ser de outro planeta. Fazer o simples e que tenha o torcedor ao lado seria o caminho, mas o radicalismo dos ricos ou de pensamento elitista não deixa. Que pague o torcedor, afinal, esse não manda no clube. Pensam eles.
*Fabiano Morais é jornalista e professor da Uern.